quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Setembro

 A garota de gorro aos 18 graus

O tempo esfria o jeans

Mas seca as roupas do varal


Anoitece às seis

E a cigarra canta

Os dias azuis trazendo cheiro e ventania

As noites negras à meia luz

Trazem frescor e alegria


Não é insuportável como fim de dezembro

Mas afável como o início de setembro


Acorde-me quando este mês acabar

Em sua cama deitarei

Esperando te reencontrar

Aos 27 eu morro outra vez

Para então, aos 29, eu renascer no próximo mês


Acho que dá até para transformar em musiquinha

Bossa nova com um pouco de melancolia

Tua memória em meu peito me guia

E tua luz nem o gelo apagaria


Abrace-me como for

Ainda não sentimos calor

Me aqueça e não se esqueça

Que para sempre tu é meu amor

Mas me adormeça como tu, sendo eterno

Chega então, o fim do inverno

Choro de Orquídeas

 Dedicado à minha primeira e eterna fã, como ela mesma se intitulava, minha mãe.

★ 04/06/1968  † 27/09/2021


Eu estive rezando desde que você se foi

Me sinto doer por dentro o peito

O copo de lágrimas amargo, quase cheio

O nó que se desfaz em devaneio

E no travesseiro ainda sinto o cheiro


Na brisa e na bossa, busco em mesas e em portas

A saudade que deixou e me levou com você

Busco em esquinas e em becos

Um relapso do teu beijo

Que grudou no meu desejo e não trouxe mais pra mim


Busco em fotografias e memórias

Fragmentos da nossa história, interrompida à força

Mas que eu não jogo fora


Ainda me pego lembrando

Das brigas e discussões, não me demoro

Não há o que ser feito, nem o que falar

Então o que não tem remédio, remediado está


Ainda me pego pensando

Num futuro construído, que dissolveu como

Um rio e ruiu com meu viver


O pensamento de não ser mais, de não ter mais

Me consome as entranhas

Me faz querer romper a pele e fugir, correr, buscar 

E me contentar

Mas não me contentarei, o teu riso não ouvirei

Seu cheiro não sentirei, o seu abraço

Seu beijo, sua voz, seu conselho

Seu amor que não cabe no peito me dói

E dói como nada nunca doeu


Dói a vida que ficou para trás

A vida que não terei

As memórias que não vêm

E as que nunca esquecerei


Dói a perda da inocência, a perda da certeza

Da segurança do cotidiano

Dói descobrir que nada é para sempre e que não tem data de validade

Vai embora a hora que vai, sem explicação

Sem aviso, sem dó nem piedade


E me deixa aqui, de mãos atadas

Deitada, encolhida dentro de mim

Tentando buscar alguma centelha de querer

De viver e continuar, você levou tudo consigo


E não vou recuperar

Terei que recriar, construir e superar

Tentar retornar a algo que me lembre 

O que era com você

E que me faça esquecer

O que é ser sem você.

domingo, 28 de março de 2021

Diário de domingo

 E cá estamos... Um ano de pandemia, e é muito estranho ver que na minha última postagem eu não fazia IDEIA das coisas que o futuro nos aguardava, que o mundo viraria de cabeça pra baixo em menos de um mês. As coisas são muito estranhas mesmo.

Pra "variar" estou neste domingo reclusa em meu quarto, aproveitando a minha própria companhia, lendo, ouvindo músicas que eu ouvia há 8 anos atrás e me fizeram lembrar desse espacinho aqui que guardo com muito carinho por ser o meu túnel do tempo para a minha eu adolescente, poética, melancólica, sonhadora... Todas as coisas que eu ainda sou, mas talvez o peso do mundo e das mudanças da vida tenham apagado um pouco. Hoje não escrevo muito mais, porém gostaria, então vir aqui e relembrar a coragem que eu tinha aos 14/15 anos de postar meus textos engolindo a vergonha me dão um gás para tentar resgatar um pouco dessa minha adolescência, que é tão recente mas ao mesmo tempo tão distante.

Hoje estava pensando comigo mesma: Sonhar acordada é o que me faz sentir viva. Não é como se eu fugisse da minha realidade, mas de vez em quando, para recarregar as baterias, eu gosto de passar uns dias, ou algumas horas sozinha apenas curtindo a minha solidão, a minha melancolia e nostalgia que tanto fazem parte da minha personalidade. Eu ouço músicas que me levem de volta a algum momento ou que me transportem para uma outra realidade imaginária completamente diferente e eu me sinto...viva. Como se estivesse no controle, pelo menos da minha própria imaginação num mundo que cada vez mais nos reprime, puxa pra baixo e silencia nossos sonhos. E é incrível como, no fundo eu ainda sou aquela menina apaixonada pelos meus próprios sentimentos e a profundidade da minha própria mente, que muitas vezes só se traduz(ia) através dos meus textos...ultimamente guardo como um segredo. Espero que quem quer que esteja lendo guarde junto comigo, não gosto de me sentir decifrada, é um charme cultivado.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

O tempo passa mas a essência permanece

Há muito não reflito sobre meus pensamentos, muito menos reinterpreto-os e traduzo-os para a forma escrita. Escrever sempre foi uma coisa que pude chamar de minha. Não sou boa em muitas coisas, ou sinto aquele prazer que vem do interno, das camadas enterradas da mente, ou melhor da alma. Deve ser por isso. Estou sempre pensando demais, refletindo demais, me contendo demais de forma lógica, quando o que faço, quando escrevo, não tem nada de lógico. Eu quero escrever, mas sem amarras, regras, sem realidade. Quero sentar com uma caneta e cuspir as palavras, parir, sem me podar, pois é assim que faço.
 Eu não nasci para ser escritora. Não nasci para contar histórias de amor, para despertar curiosidade, te prender num clímax e te surpreender no fim. Eu não sei fazer isso. O que eu sei é escrever sobre os cantinhos da vida, sobre os pensamentos evitados, refletir sobre os devaneios lunáticos e nunca mais lê-los. Eu posso até expor tudo, depois de certa matutação mental, mas nunca te mostrarei pessoalmente, nunca falarei sobre isso e muito menos nunca lerei para você. Acredito que agora, depois de alguns anos de amadurecimento, percebo que não mudei, mas me libertei um pouco. Não quero escolher palavras, temas, imagens que ilustrem o que digo. Eu quero escrever o que eu penso e o resto é trabalho seu.
Eu não nasci para ser escritora, não nasci para ganhar dinheiro com minhas escritas por que sei que elas não vendem, são pessoais demais, relaxadas demais, comuns demais. Eu sou uma romântica que gosta de ouvir Hardy, observando o céu nublado com um caderno na mão e me sentir num filme. Eu gosto de flutuar para fora da realidade, fora de tudo que me pertence e me colocar no lugar de um personagem que só existe nesses momentos, que passa 20 minutos olhando para o céu estrelado pensando em tudo mas sem falar nada. Na verdade eu sou assim, estou a todo momento pensando em tudo, criando tudo mas dificilmente falando e nunca expondo meus pensamentos, são meus e só. Pode ser que esta personagem que incorporo em momentos, seja só a minha forma mais natural, pura e sem lapidações de tudo que me atingiu durante a vida, creio que esta seja a minha essência, da criança com síndrome de Alice no país das Maravilhas, que sempre está sonhando acordada, buscando alguma forma de romantizar a vida, mas, como todos nós, sempre sendo puxada para a realidade. Não é atoa que sempre me identifiquei com Alice. Menina sonhadora, de pensamentos incompreendidos, que aprendeu a guardá-los bem numa caixinha com chave, numa gaveta, dentro de um armário num cantinho do lado esquerdo da cabeça.
Eu não nasci para ser escritora DE MANEIRA NENHUMA. Mas com certeza eu nasci para escrever.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Distração

 


  No canto da pista de dança, envolvida pela música e hipnotizada pelos raios e luzes ofuscantes que embalam centenas de corações vazios, atraídos por nada mais que pura vontade. Mas como pôde essa única menina, separada da multidão, destacada de todo o vínculo enlouquecido daquela atmosfera alucinante, me atrair o olhar e despertar uma curiosidade tremenda de descobrir o que se passa naquela pequena cabeça revestida de cabelos cor de fogo. Talvez ela estivesse refletindo sobre a futilidade do mundo afora, talvez estivesse observando os rostos bem afeiçoados dos meninos e meninas atraídos entre si. Mas, talvez estivesse apenas se perguntando "Por quê diabos estou falando comigo mesma?". Talvez ela estivesse maluca, talvez sempre fosse ou talvez ela finalmente percebeu que a sua pequena insanidade interna era tudo que a fazia permanecer lúcida neste mundo de loucos.

  Obs.: Esse texto é de MINHA AUTORIA então, caso for usá-lo credite e me avise nos comentários. :)

 Bisous,
            Mylena

domingo, 24 de maio de 2015

Além dos pinheiros



      Naquela cabana de madeira no meio da floresta, além dos pinheiros, do outro lado do lago. Sim, essa mesma. Lembre-se dela, lá é onde tudo termina. Onde minha imaginação fluiu e tive de me virar com o resto de tinta para minha pena. Onde a arte era a voz que falava mais alto, onde não existiam certo ou errado, onde, pela primeira vez, deixei escapar esse lado meu para um confidente. Onde mãos se tocaram e lábios dançaram ao som dos galhos batendo na janela. Onde as futilidades, os mistérios, as preocupações simplesmente voavam para longe junto com o tempo mais bem aproveitado de nossas vidas. Por favor, não se esqueça da cabana, vamos voltar mais uma vez, pela última vez, celebrar o fim deste conto de fadas, chorar ao entregar as chaves do paraíso, vamos nos perder, vamos, por um dia, esquecer de toda a dor. Mas por favor, não se esqueça do lugar onde tudo começou.

  Obs.: Esse texto é de MINHA AUTORIA então, caso for usá-lo credite e me avise nos comentários. :)
 Bisous,
            Mylena


domingo, 17 de maio de 2015

Homens de preto




  Os homens de preto, abutres, radares, velam um corpo vivo e devoram a alma, de dentro para fora até a carne. Até que toda a vida se vá, a carcaç se foi também mas eles não estão satisfeitos. Se reúnem onde não há vida, observam os corpos vivos morrerem pouco a pouco, farejam a morte e a idolatram. Estão por toda a parte, sobrevivendo do pouco que todos morrem a cada dia. Sugam nosso suicídio diário, nosso assassinato, a tortura de todos os dias que nós mesmos e o mundo nos provoca. Tenha cautela, a morte lhes atrai, observe, não se deixe levar, os homens de preto estão por todo lugar.

  Obs.: Esse texto e essa foto são de MINHA AUTORIA então, caso for usá-los credite e me avise nos comentários. :)
  Bisous,
               Mylena

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